Obras

Com seu conhecimento e sua fé,  Anchieta percorreu a pé, a cavalo, em embarcações, boa parte do território brasileiro. Além de abrir caminhos que se transformariam em estradas, contribuiu para manter unificado o país nos séculos seguintes. Lançou os fundamentos da catequese e educação dos jesuítas no Brasil e começou a reverter o quadro iniciado desde o descobrimento, em que os nativos eram vistos apenas como propriedade da Coroa e, como tal, passíveis de ser escravizados. Com seus dotes inatos de comunicador, conseguiu com o indígena um amplo entendimento. O homem de muitas faces que foi Anchieta transparece com nitidez nas palavras do poeta paulista

A Língua tupi e a evangelização

Anchieta era destro em quatro línguas: portuguesa, castelhana, latina e brasílica, e em todas elas traduziu em romances pios, com muita graça e delicadeza, as cantigas profanas que então andavam em uso.

Trecho do livro Chronica da Companhia de Jesus do estado do Brasil
de Simão de Vasconcellos, S.J. - 1663.

"Oú tubixá katú mamó suí nde reká, nde pópe imeengatú. Aroporaséi serú
xe abé, xe anametá." 
Tradução: "Veio cacique valente de longe a te procurar e às tuas mãos se entregar. Também trago meu parente para comigo dançar".

Decifrar o tupi foi uma das tarefas que Nóbrega confiou a Anchieta. Em seis meses ele completou o aprendizado e, em um ano, dominava a língua. Dois anos depois de ter chegado ao Brasil, escreveu a sua Arte de Gramática da Língua Mais Usada na Costa do Brasil, publicada em Portugal somente em 1595. Além da gramática, Anchieta dedicava seus dias a ensinar o latim e o português a curumins e índios adultos. Aos irmãos jesuítas, ensinava a língua tupi. O repouso não chegava à noite para ele. Era nessa hora que escrevia manuais para os alunos, cartas sobre o trabalho dos jesuítas e obras diversas, entre elas um dicionário de tupi e um tratado sobre a flora, a fauna e o clima da Capitania de São Vicente.




"O tupi de Anchieta é o tupi do século XVI. Esse tupi praticamente morreu no sentido de que a língua tupi foi marginalizada, foi substituída pelo português. Não se deu no Brasil o que ocorreu, por exemplo, no Peru e no México, onde os índios locais tinham tradições até de língua escrita e cujo dialetos permaneceram... Isso não aconteceu no Brasil. A experiência de Anchieta foi até certo ponto abortada, uma experiência que não foi levada até o fim. Ele escreveu em tupi, mas, como não houve nos séculos seguintes sucessores para a língua, o tupi foi substituído pelo português."



Nas artes

Anchieta foi gramático, poeta, teatrólogo e historiador, o trabalho de catequese influenciou sua poesia e seu teatro, resultando na melhor produção literária do quinhentismo.

Destacan-se algumas obras:

De Beata Virgine Dei Matre Maria, mais conhecido como Poema à Virgem. Foi escrito enquanto era mantido refém dos Tamoios por vontade própria. Segundo a tradição, durantes as suas caminhadas na praia, escrevia o poema com uma vara na areia, até que a maré subia e o apagava. Anchieta então recomeçava no dia seguinte, sempre acrescentando novos versos, decretada a paz, escreveu de memória o poema inteiro.



"De gestis Mendi de Saa" ("Os feitos de Mem de Sá") impressa em Coimbra em 1563, retrata a luta dos portugueses, chefiados pelo governador-geral Mem de Sá, para expulsar os franceses da baía da Guanabara onde Nicolas Durand de Villegagnon fundara a França Antártica. Esta epopéia renascentista, escrita em latim e anterior à edição de "Os Lusíadas", de Luís de Camões, é o primeiro poema épico da América, tornando-se assim o primeiro poema brasileiro impresso e, ao mesmo tempo, a primeira obra de Anchieta publicada.